Autor: Daniel Gerber. 
Ainda me recordo do “brado de guerra” que marcou a primeira eleição de Lula. As ruas vermelhas, lotadas por simpatizantes, eleitores, correligionários que viam naquele momento o ápice de uma revolução iniciada muito tempo antes.
Era bonito de se ver.
Eu, de minha parte, achava uma imbecilidade, uma confusão entre aquilo que se sente por um time de futebol e o que não deveria se sentir em relação a representantes da nação. Olhava para o mar vermelho e realmente não conseguia entender como tanta gente imergia na mesma catarse desesperada da busca do salvador.
Nasci antipetista, e assim provavelmente morrerei. Sempre achei que a tônica do discurso rubro era a hipocrisia e ignorância, o desrespeito aos fatos em prol da ilusão. Deveria, portanto, estar feliz neste momento onde o MP pede a prisão de Lula, após o Judiciário federal conduzi-lo coercitivamente.
O problema é que tais medidas surgem de um discurso tão atrofiado quanto aquele que eu repugnava nos “vermelhos”. Disparates jurídicos, desrespeitos institucionais, e um monte de celerados na rua bradando “fora corrupção” enquanto tentam furar alguma fila ou estacionar em vagas para idosos/portadores de necessidades.
Nada mudou, salvo o perfume e a roupa de “quem vai para a rua”. Nada se conquista com o desprezo pela lei e pelos requisitos objetivos de sua aplicação. Se eu dissesse em aula que mandar o MP colocar o processo em determinado orifício seria motivo de prisão, seria ridicularizado em aula. Mas hoje, palavrões atentam “contra a ordem pública”.
Não sabia, eu, que somos frágeis a ponto de termos que prender quem nos xinga. Que somos vaidosos a ponto de vazarmos informações e posarmos para coletivas dando detalhes fiscais do investigado – algo que, em tese, é sigiloso.
Enfim, a cor da camisa mudou, mas a ignorância que chega às capas de revista graças ao ímpeto ideológico acusatório do MP faz com com tudo seja apenas “mais do mesmo”. Nada mudou, nada mudará. Pede a conta, por favor.

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