
Foto: Silvia Zamboni/Valor
“Em 20 minutos fizeram Pix de todo o meu dinheiro”, relata empresária vítima de assalto
A empresária Mayara Stival e a jornalista Alice Almeida tiveram os celulares furtados em São Paulo enquanto esperavam carros solicitados por meio de aplicativo. Homens de bicicleta arrancaram os aparelhos das mãos delas. Conseguiram acessar as contas bancárias – mesmo sem elas terem informado a senha – e fizeram transferências via Pix.
As duas são correntistas do Banco Santander. O dinheiro foi enviado para contas que as próprias vítimas têm em outras instituições financeiras. Dessas contas, os valores foram repassados para terceiros.
No caso de Alice, parte do dinheiro que estava no Santander foi enviada para a conta no Banco do Brasil que recebe a pensão alimentícia da filha. Os assaltantes, além de transferirem o dinheiro que caiu nessa conta, contrataram um empréstimo.
“Deveria existir um botão do pânico. Foi assaltado, aperte aqui e a sua conta será imediatamente bloqueada”, diz Alice. Da forma como é hoje, afirma, corre-se o risco de levar mais tempo para falar com o atendente, explicar a situação e ter a conta bloqueada do que o assaltante invadir e levar o dinheiro.
“Fiz várias ligações. As primeiras caíram. Depois passei por todas aquelas gravações. Quando consegui falar com o atendente, ele informou o saldo e estava tudo certo. Disse que estava bloqueando a conta. Só que cerca de dez minutos depois, fui a um caixa eletrônico sacar dinheiro e não tinha mais nada”, recorda.
Mayara teve a conta invadida antes de conseguir atendimento. “Em 20 minutos fizeram Pix de todo o meu dinheiro”, diz. “Era sábado, não consegui atendimento por telefone. Segunda-feira fui à agência e disseram que não tinham como fazer nada. Me passaram o número do SAC.”
A advogada Sofia Coelho, sócia do escritório Daniel Gerber Advogados, orienta que, se o celular for roubado ou furtado, a vítima entre primeiro em contato com o banco para a conta ser bloqueada e as senhas alteradas. Depois, registre boletim de ocorrência do crime. “É a instituição bancária que tem as armas tecnológicas para frear esse tipo de fraude, não pode se omitir ou se eximir de responsabilidade”, afirma.
Alice e Mayara dizem ter feito exatamente isso. Alice conseguiu receber do Santander cerca de R$ 9 mil que o assaltante retirou da conta. O Banco do Brasil, no entanto, não quis desfazer o empréstimo. Neste mês, ela foi cobrada e teve que pagar a primeira parcela.
Para Mayara, o Santander respondeu que não houve uma operação atípica porque a transferência foi feita entre contas de sua própria titularidade. Ela conseguiu reembolso de parte do dinheiro com o PagSeguro – R$ 9,9 mil transferidos do Santander. Mas sofreu prejuízo de R$ 8,5 mil enviados para uma conta no PicPay, que negou o reembolso. Mayara e Alice afirmam estar se preparando para entrar com ações.
Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), muitos dos roubos e furtos ocorrem em vias públicas e durante o uso do celular pelas pessoas. “Dessa forma, os criminosos têm acesso ao celular já desbloqueado e, a partir daí, realizam pesquisas no aparelho buscando por senhas eventualmente armazenadas pelos próprios usuários em aplicativos e sites”, diz por nota.
O Santander e o Banco do Brasil afirmam que os aplicativos são seguros e não há registro de violação. “Vale destacar que toda transação necessita de uma senha de uso pessoal e intransferível”, diz, em nota, o Santander. Os bancos acrescentam que os clientes não devem salvar as senhas em blocos de notas nem compartilhar por Whatsapp e e-mail.
O PagSeguro afirma ter processos e soluções de segurança para que os clientes usem com tranquilidade todos os serviços. Já o PicPay não deu retorno até o fechamento da edição.
Publicado em Valor Econômico (https://valor.globo.com/legislacao/noticia/2022/01/19/contas-sao-zeradas-com-demora-no-bloqueio.ghtml)